Quem é esse cara do espelho?

Sempre acreditei na importância de aprender sobre mim mesmo e hoje sou forte defensor da ideia de que autoconhecimento é a chave para uma vida rica e interessante. Também sorrio com curiosidade crescente ao olhar para trás e perceber o quanto o ato de me olhar no espelho, me questionar e receber feedback de colegas, chefes, amigos e inimigos impactou minha habilidade de me reinventar, questionar e escrever minha própria história.

Nossa visão para o transforME! está alinhada com essa filosofia: acreditamos que a transformação externa (do outro, organização, sociedade, mundo, etc) é posterior a interna. Ou seja, autoconhecimento é absolutamente crítico na instrumentação de líderes que fazem acontecer. E felizmente não estamos sozinhos nessa onda, pelo contrário, existe evidência científica sólida demonstrando que autoconhecimento é um pilar fundamental na sustentação de uma vida de impacto. Especificamente, a própria Harvard Business School oferece um curso de MBA altamente procurado por seus alunos intitulado de “Authentic Leadership Development”, ou Desenvolvimento Autêntico de Liderança. O curso foca em reflexão, feedback, identificação de pontos fortes e fracos, na arte de construir e contar a sua própria história e objetiva instrumentar líderes a fazer acontecer de forma sustentável, impactante e autêntica.

Na mesma linha de raciocínio está Anthony Tjan, autor do recém lançado Heart, Smarts, Guts, and Luck, livro sobre empreendedorismo ainda sem tradução em português que está recebendo críticas quentíssimas nos EUA. Com uma bagagem sólida na área de empreendedorismo e inovação, Anthony defende que existe uma qualidade que desbanca qualquer outra quando o assunto é liderança e empreendedorismo de alto impacto. Qual será?

Anthony argumenta que sem autoconhecimento você não é capaz de entender seus pontos fortes e fracos, seus super-poderes versus sua “criptonita”. É o autoconhecimento que permite os melhores “fazedores” em business caminhar sobre a corda bamba da liderança: projetar convicção e humildade simultaneamente, estando aberto a novas ideias e opiniões divergentes. A convicção (e sim, o ego) que fundadores e CEOs precisam para suas visões acaba ofuscando suas habilidades de demonstrar vulnerabilidade ou liderar com humildade. Tudo isso faz com que o autoconhecimento seja absolutamente essencial!

Bom, como mencionado, não há nada de novo por aqui. A pergunta que se mantém aberta, no entanto, é como se tornar mais ciente de si mesmo. Baseado na opinião de experts (incluindo Anthony) e experiência pessoal aqui seguem três estratégias comprovadas cientificamente:

1. Teste e conheça-se melhor

Ferramentas desenhadas para diagnosticar o quanto você conhece sobre si mesmo podem ser o primeiro passo na identificação de suas fraquezas e fortalezas. Testes de personalidade como Myers-Briggs, Predictive Index e StrengthsFinder ganharam significativa popularidade nos últimos anos, e por bons motivos. Estes testes não são um fim por si só e não são, absolutamente, medidas perfeitas sobre sua personalidade, no entanto eles facilitam a autorreflexão, o que leva diretamente ao autoconhecimento.

2. Observe a si próprio e aprenda

No belo artigo “Gerenciando a Si Próprio”, clássico de Peter Drucker, o guru de administração e negócios sugere “toda vez que você tomar uma decisão importante, escreva o que você espera que irá acontecer. Nove ou doze meses depois, compare o resultado com suas expectativas iniciais”. Essa processo de autorreflexão é chamado por Drucker de análise de feedback e é praticado por inúmeros executivos e líderes de sucesso, incluindo o mega-investidor Warren Buffet.

3. Preste atenção nos outros também

Autoconhecimento é crucial para a construção e liderança de um time. Estar ciente de seus pontos fortes e fracos o torna um líder melhor porque você se sente mais seguro para alocar recursos limitados sobre pressão. Equipes efetivas são compostas por indivíduos que entendem e complementam uns aos outros. Por definição, é impossível que um indivíduo seja melhor que os demais em todos aspectos de um projeto inovador. Ao contrário, um bom time é composto por diversidade de excelência. Assim, aqui vai talvez a mais importante prática de todas: estar aberto e buscar feedback dos seus colegas, superiores, subordinados, amigos e inimigos com o objetivo de entender o vácuo entre quem você acha que é e o que os outros, coletivamente, realmente acham quem você é.

Este tipo de ferramenta, conhecida por feedback 360, é normalmente restrita a altos executivos e indivíduos que subiram a escada organizacional e teoricamente não precisam dela já que suas posições pressupõem que eles e elas tomaram decisões corretas para chegar lá. Jovens que aspiram a liderar talvez nunca cheguem lá por terem tomado decisões erradas sobre onde e como aplicar seus talentos. Assim, a transforME! está trabalhando para democratizar uma ferramenta robusta, desenhada com rigor científico sobre a orientação de professores da Harvard Business School, que facilite o processo de identificação dos pontos fortes e fracos de cada um.

Assim como Einstein, acreditamos que “todo mundo é um gênio. Mas, se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em uma árvore, ele irá gastar toda a sua vida acreditando que é estúpido”. Em breve novidades sobre o que estamos inventado.

Finalmente, destaco que autorreflexão e o autoconhecimento como consequência não devem ser interpretados como exercícios passivos, medição da nova era, ou ciência “soft”. Autorreflexão e autoconhecimento são absolutamente essenciais. Existe uma forte lógica por trás do fato de que em programas de reabilitação o primeiro passo é estar ciente o suficiente para admitir o problema. Da mesma forma, ciência sobre si mesmo é o primeiro passo para uma vida pessoal e profissional rica, interessante e de impacto.

Fontes utilizadas para este artigo:
How Leaders Become Self Aware, Harvard Business Review
Managing Oneself, Peter Drucker, Harvard Business Review