Recarregue a passos largos, e rápidos: as benesses de correr bem
Nascemos para correr: para fugir do perigo e derrubar a caça; para alcançar proteção e sustento. Abraham Lincoln e Nelson Mandela, como bons corredores, provavelmente concordariam com esse argumento, mas quem o defende com a voz mais alta é Christopher McDougall. Christopher é jornalista, americano e escreve frequentemente para revista Runners World; sua obra prima, no entanto, é o intrigante livro Born to Run, lançado recentemente nos EUA. Acabo de terminá-lo e o recomendo fortemente: para corredores e curiosos em geral. Entre suas teses, há uma que venho pessoalmente testando a mais de 4 anos: correr frequentemente é uma excelente medida para aliviar o stress e recarregar a bateria. Abaixo o que a ciência já demonstrou ser verdade sobre as benesses de cair na estrada a passos largos (ou curtos), e rápidos (ou vagarosos):
- Melhore sua saúde: aumente o nível do colesterol bom (HDL), dê um boost no sistema imunológico, abaixe a pressão arterial e, para as mulheres, diminua o risco de desenvolvimento de câncer de mama.
- Aumente sua autoconfiança: esse é um dos mais importantes benefícios não físicos da corrida. Traçar metas e desafios físicos pode dramaticamente impactar seu psicológico, como autoestima e autoconfiança. Completar uma corridinha é uma forma fácil e barata de sentir que seu dia foi produtivo e que metas pessoais foram alcançadas. Ainda, correr libera hormônios e neurotransmissores que funcionam como antidepressivos naturais, endógenos. Há quem diga que correr é o melhor remédio para a depressão.
- Tchau, stress: diminua seu apetite, aumente a qualidade do seu sono e sinta que seu corpo inteiro foi utilizado de acordo com o seu design original: não para ficar sentado o dia inteiro, mas para se mexer, como diria Christopher, em busca de proteção ou sustento.
Além dessas vantagens óbvias, correr ao ar livre também é, acima de tudo, um ato de expressão da liberdade e de cidadania. É gratuito e exige pouco equipamento; serve a todos, de todas as idades. É também um excelente meio de exploração de lugares novos. Foi correndo que conheci avenidas, esquinas, parques, lagos e olhares em lugares como Londres, New York, Paris, Ljubljana, Jakarta, Shanghai, San Francisco, Bali e por aí vai. Especificamente, funciona bem pela manhã antes do calor pegar, lá pelas 7.30 da matina: tomo um café preto com açúcar e pela estrada eu vou. A vantagem de explorar um lugar novo correndo é que você vê muito, através de uma perspectiva única, em pouco tempo. Por mais turística que seja a cidade, de manhã cedinho é a hora dos moradores locais ocuparem ruas e parques, o que permite observações autênticas da vida local. Em Ubud (Bali), por exemplo, corro numa rua coberta por uma fumaça que mistura o cheiro de côco queimado e incenso de lótus – oferendas religiosas – com, ah nada romântico, lixo queimado – prática antiga ainda utilizada por boa parte do vilarejo. O melhor de tudo é ouvir de senhoras e crianças um simpático e bem humorado Salamat Pagir!, bom dia no idioma local.
Finalmente, compartilho uma passagem marcante de Born to Run, sobre o método de treinamento do Coach Vigil, um dos treinadores de corrida mais importantes dos EUA:
“… a fórmula mágica do Coach Vigil para se dar bem numa corrida não tinha nada a ver com corrida, era basicamente:
- Pratique abundância sendo generoso;
- Melhore suas relações interpessoais;
- Demonstre integridade nos seus valores.
Sua recomendação de dieta para maratonistas olímpicos era simples e direta: alimente-se como se você fosse pobre. O Coach Vigil acreditava que o indivíduo tinha que se tornar uma pessoa forte antes se tornar um corredor forte.”
Se você ainda não se convenceu de que nascemos, de fato, para correr, fica a TED talk de Christopher McDougall como última pedida.